Por Laís Leão
Estudar a construção das cidades é também estudar sobre lutas e resistências na ocupação dos espaços. A cidade é um espelho das dinâmicas sociais vigentes e, ao mesmo tempo, é uma tela texturizada que influencia as dinâmicas sociais de controle e dominação entre pessoas.
A cidade é uma área de grandes disputas de poder.
Estruturas de poder criadas em cima de um único modelo de viver e de ocupar o espaço público criaram também uma dinâmica de silêncio e invisibilidade de qualquer pessoa que não se encaixe no modelo. Os espaços públicos e de decisão passaram a pertencer de verdade somente a este pequeno grupo e a excluir os demais – que continuam fazendo uso destes espaços, mas quase que somente para circulação e não para lazer/estar de fato.
A criação de um modelo urbano em que espaços de encontro coletivo são destruídos pelo medo é também parte de estratégia de dominação em que esses grupos oprimidos não se sentem confortáveis para de fato se encontrarem e discutirem seus problemas. No caso das mulheres, à medida que cada mulher esteja dentro de casas, trancadas e com medo, indo de lugar privado para lugar privado, controladas, fica mais difícil que estas conversem, discutam soluções para seus problemas e opressões e não se sintam sozinhas em seus medos. Para as mulheres trabalhadoras, que usam os espaços públicos para trabalho, a cidade passa a ser exclusivamente um espaço de circulação, usado exaustivamente mas nunca para nada que seja voltado ao pertencimento, ao lazer, à escolha e ao estar.
Neste estudo, entrevistamos e coletamos dados e percepções de mulheres que vivem diferentes realidades em Curitiba (Brasil). A intenção desta pesquisa é contribuir para o cenário do que chamamos de “urbanismo feminista” e apresentar novas informações sobre a relação que mulheres têm com espaços públicos e as táticas que utilizamos para nos deslocarmos.
Leia o conteúdo completo no hotsite “Somos tudo meio neurótica”
Baixe a dissertação “Somos tudo meio neurótica: emprego de táticas de autoproteção como mecanismos de resistência urbana nas decisões femininas de mobilidade”